A mistura de streetwear com moda de luxo iniciou nos anos 2000, quando o estilista americano Marc Jacobs cometeu a blasfêmia de alterar o logotipo de uma maison centenária francesa, a Louis Vuitton, com a ajuda do artista nova-iorquino Stephen Sprouse. De lá para cá, as passarelas observaram a uma profusão de peças usadas nas ruas, de calças jogging a tênis com solado altíssimo, misturadas à alfaiataria clássica. Pode-se dizer, contudo, que esta temporada de moda masculina estabeleceu o retorno de uma moda mais simples, com aposta nos clássicos da alfaiataria.
Essa ação já vinha ocorrendo em algumas temporadas, mas se firmou agora. O maior símbolo dessa mudança atual é a Gucci. Nos sete anos em que o italiano Alessandro Michele esteve no comando criativo, a grife apresentou referências aos anos 1970 com sobreposições, estampas e cores em exagero. Em janeiro deste ano a Gucci retornou aos desfiles na Semana de Moda Masculina de Milão, após algumas temporadas fazendo apresentações únicas na temporada feminina. Era definitivamente outra marca.
O tema da coleção da Gucci foi “Improviso como Metodologia”, o que pode ser compreendido como uma referência à produção feita pelo time interno — o novo diretor criativo, Sabato De Sarno, foi anunciado dias depois do desfile. Os modelos usaram sobretudos largos, calças amplas e camisas de seda, uma alfaiataria mais clássica apesar da modelagem grande. Ainda houve saias, calças rasgadas e cores mais chamativas aqui e ali, apenas como elemento de atenção.
A Dolce & Gabbana voltou para os seus itens essenciais, como paletós e calças de corte impecável, casacos de abotoamento duplo e gravatas slim nas cores preta, cinza e branca, depois de anos de exageros. A Prada também deixou bem viva sua proposta. A apresentação teve o nome Let’s Talk About Clothes, ou “Vamos Falar de Roupas”. Os costumes e jaquetas levemente folgados em tons sóbrios eram quebrados pelo uso sobre a pele, muito mais um efeito visual para as passarelas do que uma sugestão de uso para as ruas. A Zegna, uma grife que sempre se manteve mais aos clássicos, ratificou a qualidade de materiais como o cashmere em uma alfaiataria impecável como sempre.
Uma das exceções que confirmam a regra foi a Louis Vuitton, sem diretor criativo desde a morte de Virgil Abloh, em novembro de 2021. A grife expôs na Semana de Moda de Paris uma coleção festiva e colorida, embalada por um show da cantora Rosalía, com a colaboração do diretor criativo convidado Colm Dillane, dono da marca de streetwear KidSuper.
A pandemia trouxe de volta a casualização da moda. As marcas têm investido em silhuetas confortáveis e materiais tecnológicos, elementos presentes nas coleções apresentadas em janeiro. Para quem contempla uma moda meramente bem-feita, nada como ter as boas e velhas peças de volta.